sábado, 10 de maio de 2014

A ficcionalidade e semântica do texto literário

A ficcionalidade e semântica do texto literário

A ficcionalidade é um conjunto de regras pragmáticas que prescrevem como estabelecer as possíveis relações entre o mundo constituído pelo texto literário e o mundo empírico. E constitui uma propriedade necessária para a existência do texto literário.
A ficcionalidade a nos textos literários manifesta-se a dois níveis: no nível de enunciação e no nível dos referentes textuais.
No nível de enunciação, o autor textual e o narrador não são co-referenciais com o autor empírico e produzem textos que não depende de um contexto, ou situação actual. E a nível dos referentes textuais, os referentes textuais não preexistem ao texto literário, não lhe são anteriores nem exteriores, sendo instituídos pelos enunciados do próprio texto. Os referentes dos textos literários, constituem objectos de ficção ou seja não existem no mundo empírico e, não são factualmente verdadeiros. Contudo, entre os referentes literários pode figurar objectos que têm, ou tiveram, existência no mundo empírico, por exemplo, a cidade de Lisboa n Os Maias.
Mas os códigos de certos subgéneros literários, como o romance e o drama históricos, comportam como convenção indispensável a representação de personagens que tiveram existência historicamente comprovada, as quais, no mundo possível da obra literária, coexistem e convivem com personagens puramente ficcionais, e de eventos historicamente ocorridos, que naquele mundo, se cruzam e misturam-se com acções também puramente ficcionais. Mas estes objectos que tiveram existência historicamente comprovada, quando dentro do mundo textual, adquirem o estatuto ficcional, não podendo ser exactamente identificados como referentes empíricos e históricos.
Do ponto de vista filosófico, os objectos ficcionais não podem ser julgados verdadeiros ou falsos de acordo com o conceito que exige a correspondência das proposições com a realidade, mas podem ser julgados verdadeiros ou falsos em função dos enunciados dos textos literários em que aqueles objectos ocorrem.
E tudo no texto literário, só pode ser verdadeiro ou falso, se o narrador assim o afirmar. Uma vez que ao se analisar o problema da verdade num texto literário, as palavras do escritor instituem uma verdade que pode ser explicada, mas não verificadas, porque essa verdade existe nessas palavras, num discurso semanticamente orgânico e autónomo.
Mas a pseudo-referencialidade não implica uma total ruptura com o mundo empírico, mas sim, suspende-a. Pois certos códigos literários, tendem a aproximar estreitamente o mundo possível do texto literário e o mundo empírico, por exemplo: o realismo, que tem como regra, a representação objectiva e verista do real. E em contra partida, o código da literatura fantástica, tende a acentuar a diferenciação entre os dois mundos, o ficcional e o empírico. No entanto, tanto na literatura fantástica assim como a literatura realista, existe sempre uma estrita correlação com o mundo real, correlação essa que pode advir de uma modalidade metonímica com uma modalidade metafórica, que tanto pode apresentar-se sob espécie de uma fidelidade mimética como sob a espécie de uma deformação grotesca ou de uma transfiguração desrealizante. É esta correlação semântica do texto literário com o real, que muitos autores, afirma que uma verdade no texto literário não se funda com a verdade no mundo empírico.

O texto literário como um mecanismo semiótico que em virtude das características da sua forma de expressão, da sua forma de conteúdo e do seu estatuto comunicacional, apresenta estruturas semânticas peculiares e tem capacidade de produzir no processo de leitura, tanto sincrónica como diacronicamente, novos significados.

Bibliografia
Aguiar e Silva. V.M. (1984). Teoria da Literatura, 6ª edição. Coimbra. Livraria Almedina.
      pp. 639-654



De: S. Chisseve

contacto: chissevesergio@gmail.com

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