A ficcionalidade e semântica do texto literário
A ficcionalidade é um conjunto de regras pragmáticas que
prescrevem como estabelecer as possíveis relações entre o mundo constituído
pelo texto literário e o mundo empírico. E constitui uma propriedade necessária
para a existência do texto literário.
A ficcionalidade a nos textos literários manifesta-se a
dois níveis: no nível de enunciação e no nível dos referentes textuais.
No nível de enunciação, o autor textual e o narrador não
são co-referenciais com o autor empírico e produzem textos que não depende de
um contexto, ou situação actual. E a nível dos referentes textuais, os
referentes textuais não preexistem ao texto literário, não lhe são anteriores
nem exteriores, sendo instituídos pelos enunciados do próprio texto. Os
referentes dos textos literários, constituem objectos de ficção ou seja não
existem no mundo empírico e, não são factualmente verdadeiros. Contudo, entre
os referentes literários pode figurar objectos que têm, ou tiveram, existência no
mundo empírico, por exemplo, a cidade de Lisboa n Os Maias.
Mas os códigos de certos subgéneros literários, como o
romance e o drama históricos, comportam como convenção indispensável a
representação de personagens que tiveram existência historicamente comprovada,
as quais, no mundo possível da obra literária, coexistem e convivem com
personagens puramente ficcionais, e de eventos historicamente ocorridos, que
naquele mundo, se cruzam e misturam-se com acções também puramente ficcionais.
Mas estes objectos que tiveram existência historicamente comprovada, quando
dentro do mundo textual, adquirem o estatuto ficcional, não podendo ser
exactamente identificados como referentes empíricos e históricos.
Do ponto de vista filosófico, os objectos ficcionais não
podem ser julgados verdadeiros ou falsos de acordo com o conceito que exige a
correspondência das proposições com a realidade, mas podem ser julgados
verdadeiros ou falsos em função dos enunciados dos textos literários em que
aqueles objectos ocorrem.
E tudo no texto literário, só pode ser verdadeiro ou
falso, se o narrador assim o afirmar. Uma vez que ao se analisar o problema da
verdade num texto literário, as palavras do escritor instituem uma verdade que
pode ser explicada, mas não verificadas, porque essa verdade existe nessas
palavras, num discurso semanticamente orgânico e autónomo.
Mas a pseudo-referencialidade não implica uma total
ruptura com o mundo empírico, mas sim, suspende-a. Pois certos códigos
literários, tendem a aproximar estreitamente o mundo possível do texto literário
e o mundo empírico, por exemplo: o realismo, que tem como regra, a
representação objectiva e verista do real. E em contra partida, o código da
literatura fantástica, tende a acentuar a diferenciação entre os dois mundos, o
ficcional e o empírico. No entanto, tanto na literatura fantástica assim como a
literatura realista, existe sempre uma estrita correlação com o mundo real,
correlação essa que pode advir de uma modalidade metonímica com uma modalidade metafórica,
que tanto pode apresentar-se sob espécie de uma fidelidade mimética como sob a
espécie de uma deformação grotesca ou de uma transfiguração desrealizante. É
esta correlação semântica do texto literário com o real, que muitos autores,
afirma que uma verdade no texto literário não se funda com a verdade no mundo empírico.
O texto literário como um mecanismo semiótico que em
virtude das características da sua forma de expressão, da sua forma de conteúdo
e do seu estatuto comunicacional, apresenta estruturas semânticas peculiares e
tem capacidade de produzir no processo de leitura, tanto sincrónica como
diacronicamente, novos significados.
Bibliografia
Aguiar e Silva. V.M. (1984). Teoria da Literatura, 6ª
edição. Coimbra. Livraria Almedina.
pp. 639-654
De: S. Chisseve
contacto: chissevesergio@gmail.com
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