quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Alguns aspectos convergentes e divergentes da cultura moçambicana

Índice






1. Introdução


A área com cerca de 799 380km², actualmente correspondente ao território moçambicano, surge no contexto da ocupação colonial. Foi por essas alturas que as potências europeias (movidas por razões de ordem económica) promoveram nos finais do século XIX a Conferência de Berlim (1884 – 1885), na qual se materializou a partilha de África de forma arbitrária. Assim afirmamos porque aquando da concretização dos seus interesses (que viriam a terminar com a ocupação efectiva), os ocidentais não consideraram as fronteiras culturais, etnolinguísticas, económicas, geográficas, políticas e/ou tradicionais africanas, dividindo deste jeito diversas estruturas sociais.

É precisamente neste cenário que surge um Moçambique multilinguístico e multiétnico, isto é, formado por povos que partilham línguas, hábitos e costumes diferentes num mesmo espaço físico-geográfico. Mas apesar desta partilha acontecer dentro da mesma fronteira, se por um lado, no que tange a cultura, os diferentes grupos étnicos existentes no país comungam diversos traços culturais, por outro, os traços culturais diferem-se.

Motivados pela necessidade de compreendermos o fenómeno cultural moçambicano, o presente trabalho, que se insere no âmbito da disciplina Literatura e Cultura Moçambicana, cujo tema é Cultura Moçambicana: Aspectos Convergentes E Divergentes Da Cultura Moçambicana Multiétnica E Multilinguística, visa analisar os aspectos convergentes e divergentes da cultura moçambicana em “Quenguelequezê”, poema de Rui de Noronha, “Balada de Amor Ao Vento” e “Niketche”, romances de Paulina Chiziane. A primeira análise vai opor “Quenguelequezê” da “Balada de Amor Ao Vento”, na qual mostraremos (i) como o rito de nascimento acontece em cada texto e, em “Niketche”, (ii) como a instituição casamento é concebida em dois espaços culturais diferentes, focando a atenção a reacção das mulheres perante este fenómeno.

Portanto, o trabalho terá dois momentos essenciais: o primeiro tem a ver com a busca dos principais conceitos relacionados com o tema em estudo enquanto o segundo será destinado a análise propriamente dita.

Eis a estrutura do trabalho: Breves considerações sobre as noções de Literatura, Cultura e multilinguismo; Alguns aspectos convergentes e divergentes da cultura moçambicana, A celebração do ritual de nascimento em “Quenguelequezê” e “Balada de Amor Ao Vento”; Como é que as mulheres do sul e do norte de Moçambique se portam antes e durante o casamento?; Conclusão e Referência bibliográfica.

 




 

2. Breves considerações sobre as noções de Literatura, Cultura e multilinguismo 

2. 1. Noção de Literatura


A intenção de encontrar um conceito referencial de literatura, enquanto ciência, com métodos, objectos e objectivos próprios, é marcada de contradições e repulsas ao longo da história literária. Pois, nem as tentativas de definição biográfica de literatura de Saint Beuve, historicista de Hippolyte Tain, formalista dos Formalistas Russos, institucional/funcional defendida, por exemplo, por Stanley Fish, conseguiram vincar. Isto acontece porque, no entender de Todorov (1978: 25), para além da utilização da linguagem não existe nenhum elemento extensivo e exclusivo dos textos literários, o que faz com o que se encontra em obras literárias possa também ser encontrado em obras não literárias.
Por isso, neste estudo iremos nos preocupar com literatura enquanto uma manifestação artística, um texto verbal com lacunas que devem ser preenchidas pelo leitor para que possam fazer algum sentido.

 

2. 2. Noção de Cultura


De acordo com Siliya (1996: 33), “o homem cria cultura no seu relacionamento permanente com a natureza” − esta ideia também nos é sugerida por Martins (2001).
Para Siliya e Martins a cultura parece ser um produto natural, no entanto, sem o ambiente social circundante ao homem, ainda que haja um relacionamento entre este e a natureza, entendemos nós, não pode haver cultura.
Como se a ampliar aquela noção, Lima, Martinez e Filho (1991), definem cultura como tudo o que recebemos, transmitimos ou inventamos. Por exemplo, uma adivinha, um conto, o respeito pelos mais velhos, as regras, os hábitos/costumes, a língua, e etc., constituem cultura. Daí afirmarem: para além de cultura ser o conjunto de tradições e herança social, é tudo que o homem acrescenta à natureza humana.
Esta noção dual, que realça o factor natural e social do Homem, leva-nos ao seguinte posicionamento: a cultura é um conjunto de artefactos materiais e psicológicos que o Homem (re)produz, transmite e inventa, no meio social, como forma de vencer as suas necessidades e/ou as suas limitações biológicas/físicas.

2. 3. Noção de Multilinguismo

Dubois e tal (1978: 470), usam a noção multilinguismo como sinónimo de plurilingue. Assim, de acordo com aqueles autores, multilingue refere-se aquele falante plurilingue. Melhor dizendo, “diz-se que um falante é plurilingue quando utiliza no seio de uma mesma comunidade várias línguas conforme o tipo de comunicação (em sua família, em suas relações sociais, em suas relações com a administração, etc.). Diz-se de uma comunidade que ela é plurilingue quando várias línguas são utilizadas nos diversos tipos de comunicação”. Logo, multiétnico refere-se a uma sociedade composta por várias etnias[1]. Como é o caso de Moçambique  

3. Alguns aspectos convergentes e divergentes da cultura moçambicana


Numa intervenção concedida ao IV Encontro de Professores de Literaturas Africanas, está evidente que Lourenço do Rosário defende que a literatura moçambicana tem um lugar, enquanto veículo de valores culturais, quer dizer, a literatura é um espaço de debate, de questionamento e de reflexão dos hábitos e de costumes tradicionais. Porque cremos na veracidade dos argumentos de Rosário (2010), trataremos dos aspectos convergentes e divergentes da cultura moçambicana tendo como foco três textos literários da literatura moçambicana:  “Quenguelequezê”, poema de Rui de Noronha, “Balada de Amor Ao Vento” e “Niketche”, ambos os romances de Paulina Chiziane, uma vez que parecem apresentar elementos elucidativos sobre a diversidade multilinguística e multiétnica da cultura moçambicana.

3. 1. A celebração do ritual de nascimento em “Quenguelequezê”[2] e “Balada de Amor Ao Vento”


Um dos vários aspectos de convergência entre os diversos grupos etnolinguísticos existentes em Moçambique é a prática dos rituais em determinados estágios de evolução física e mental do ser humano. Referimo-nos aos seguintes rituais: nascimento, iniciação, matrimónio ou fúnebre. Não obstante, embora os rituais mencionados façam parte – podemos assumir – de todas as etnias do país, a maneira como cada comunidade ou grupo levará a cabo é diferente. A seguir, revelaremos as semelhanças e as diferenças concernentes ao rito de nascimento, nos textos já identificados.

No poema de Rui de Noronha, “Quenguelequezê”[3], o sujeito de enunciação apresenta-nos um “cenário” em que se concretiza o ritual de nascimento. Neste poema, o ritual é levado a cabo entre cânticos e danças e, “Como se fora em brando e afogado leito/ Deitaram a criança, rebolando-a,/ Em cima do monturo”, sendo que no auge da cerimónia a criança é apresentada à lua longe dos cuidados paternos. Aliás, porque o ritual de nascimento tem uma extrema importância simbólica na vida dos que nele acreditam e praticam, pois é graças a este ritual que (de acordo com o texto, só pode ser orientado pela mulher mais idosa da comunidade) já adulto, a criança pode ser perspicaz, intrépido, inteligente e forte. Por isso, o pai da criança só regozija depois de cumprido integralmente o ritual porque assim antevê um futuro brilhante para o filho e, consequentemente, para si próprio, através da personalidade do filho. As seguintes passagens extraídas de “Quenguelequezê” quando o pai tem finalmente o contacto com filho, são ilustrativas, vejamos:

“Meu filho, eu estou contente!
Agora já não temo que ninguém
Mofe de ti na rua,
E diga, quando errares, que tua mãe
Te não mostrou à lua!
Agora tens abertos os ouvidos
Para tudo compreender;
Teu peito afoitará, impávido, os rugidos
Das feras, sem tremer…
Meu filho, eu estou contente!
Tu és agora um ser inteligente,
E assim hás-de crescer, hás-de ser homem forte

Até que já cansado
Um dia muito velho
De filhos rodeado,
Sentindo já a dobrar-se o teu joelho
Virá buscar-te a morte…
Meu filho, eu estou contente!
Agora, sim, sou pai!...”[4]




Como podemos notar, na passagem acima há uma entidade textual que se jubila com o nascimento do filho não revela, antes pelo contrário, enfatiza orgulhoso no último verso que é pai porque um acontecimento importante materializou-se com sucesso. Parafraseando, a entidade textual sente-se pai no momento em que o filho passa por todo o ritual de nascimento e não quando nasce, pois, sem apresentação da criança à lua, repetimos, pela senhora mais idosa da comunidade, de nada vale a vida.

Há aqui um simbolismo cultural intenso que comprova que a literatura realmente é um espaço de debate, de questionamento, de reflexão dos costumes tradicionais/culturais de uma sociedade, mas também de aprendizagem e conservação indubitável desses costumes.
O indivíduo do grupo etnolinguístico ronga que for a ler “Quenguelequezê” pode, sem receio algum, identificar-se com o ritual e com a forma como aparentemente esse ritual é desenvolvido. É o nosso caso. Por isso (re)vivemos a passagem “Olha é tua” (p. 27) como se a lua do poema também nos pertencesse.

Em relação à “Balada de Amor ao Vento”, primeiro romance de Paulina Chiziane, o qual gira em torno da estória amorosa de Sarnau e Mwando, personagens que depois de se separarem diversas vezes veriam a terminar juntos nos “labirintos” de Mafalala, o rito de nascimento também é um acontecimento a ter em conta. Sem nos centrarmos no universo diegético em si, mas na passagem em que constatamos o ritual de nascimento, capítulo 11, explicaremos como acontece.
Logo a partida, no capítulo 11 do romance em causa está evidente a celebração do ritual do nascimento. À semelhança do que acontece no poema acima analisado, o ritual nesse romance também inicia de forma especial “Kenguelekezêêê!...” que se ao nível semântico converge com o outro texto, ao nível da ortografia diverge.

Em a “Balada de Amor ao vento” o ritual de nascimento que devia se realizar durante a lua nova, realiza-se na lua cheia por se tratar do filho do rei, e a apresentação do recém-nascido à lua é motivado pelo facto de se pretender livrá-lo de diarreias, doenças nervosas e ataques durante o longo período de vida em que a criança estará sujeita às diversas metamorfoses. Este ritual é orientado pelas madrinhas da criança à volta de uma fogueira sagrada, na qual, para além da apresentação da criança à lua, dançando, administram fumos e drogas com o objectivo de afugentar feitiços e maus-olhados. Neste processo, não se escusam as vacinas, amuletos e colares de pele de leão, de modo que futuramente o miúdo possa ser corajoso e determinado como o leão é. Há por detrás destas todas peripécias uma crença na qual os tsongas (Marrongas, machanganas e matwas) se espelham na construção de um futuro individual e, consequentemente, colectivo na medida em que não deve haver indivíduo sem colectivo – porque o Homem é por essência um ser gregário, já o sabemos – e colectivo sem indivíduo. Mas o que há de comum entre estes dois textos no concerne ao rito de nascimento e como é que as divergências se explicam à luz de uma sociedade multiétnica e multilinguística?

Começando por responder a primeira pergunta, em ambos os textos quando a criança nasce celebra-se o rito de nascimento que consiste em o recém-nascido ser apresentado à lua de modo que a sua vida possa ser o que a comunidade almeja a qualquer membro que nela integra; em ambos os textos o ritual é dirigido por mulher(s) e os homens, inclusive o pai da criança, mantém-se distante da criança até que se cumpra integralmente o ritual; em ambos os textos o termo “Quenguelequezê” (Rui de Noronha) ou “Kenguelekezêêê (Paulina Chiziane) mais do que anunciar a lua nova, pretendem abrir as portas da vida ao recém-nascido; em ambos os textos o ritual é realizado entre danças e cânticos e à noite.

Ora, se em Noronha o ritual é celebrado pela mulher mais idosa da comunidade, em Chiziane desvaloriza-se a idade, são as madrinhas da criança que orientam o ritual. Para além da variedade ortográfica do termo, como já referimos, enquanto no primeiro texto o homem tem um papel secundário de cantar, no segundo o homem nem esse papel tem. Outra diferença está relacionado com facto de depois de a criança ser ostentada à lua, em “Balada de Amor ao Vento”, passar por um processo de vacinação e aquisição de amuletos e peles de leão com o objectivo de torná-la forte e corajosa − em “Quenguelequezê” tal fenómeno não é aparente.

Estas divergências acontecem porque, na nossa óptica, cada texto apropria-se de um universo de um determinado grupo etnolinguístico e étnico que mesmo sendo tsonga, nos dois casos, as diferenças linguísticas e tradicionais vão variar de acordo com o cronótipo que separa os dois grupos etnolinguísticos implicitamente identificados tanto em “Quenguelequezê” como em a “Balada de Amor ao Vento”. É pela diversidade linguística e étnica que o Moçambique possui que os textos literários, a dada altura, enquanto um produto que se não dissocia na cultura, apresentam aspectos convergentes e divergentes. Todavia, buscar dois textos literários não constitui a única forma de demonstrar estes aspectos. Num mesmo texto literário podem se encontrar vários elementos intrínsecos à diversidade cultural. Niketche, que a seguir analisaremos, é um exemplo a ter em conta.

 

3. 2. Como é que as mulheres do sul e do norte de Moçambique se portam antes e durante o casamento?


Lançamos esta pergunta em jeito de provocação. Se quiséssemos respondê-la, com efeito, à luz da realidade moçambicanidade, teríamos de fazer um estudo sociológico em vez de literário. O nosso interesse não é esse, mas sim, como fizemos menção na introdução deste trabalho, analisar os aspectos convergentes e divergentes da cultura moçambicana a partir de textos literários previamente mencionados. Para o efeito, neste ponto iremos nos focalizar nas falas de duas personagens de Niketche, pois oferecem-nos argumentos passíveis de responder a pergunta acima.   

O romance Niketche gira em torno dos melodramas que Rami, a protagonista da estória, vive quando Tony, o marido, relaciona-se com outras mulheres, repelindo-a a um plano secundário. Com o receio de perder o marido, Rami resolve dirigir-se a uma macua idónea no intuito de obter conselhos que a ajudassem a salvar o lar. É no diálogo destas duas mulheres que se registam algumas semelhanças e diferenças entre as mulheres do sul e do norte, e tudo surge da necessidade de Rami, representado metaforicamente as mulheres do sul, responder a pergunta feita por aquela que, também metaforicamente, representa as mulheres do norte, “Como foi a preparação do teu casamento?”. Respondendo a pergunta, Rami revela que as mulheres do sul, em vésperas de casamento, para além dos conselhos ligados à obediência e à maternidade que recebem da igreja e da família, nada mais aprendem nos dias que precedem o casamento. Por isso, a conselheira macua que Rami procura afirma à luz dos seus costumes: “Então não és mulher” – e diz mais – “És ainda criança. Como queres tu ser feliz no casamento, se a vida a dois é feita de amor e sexo e nada te ensinaram sobre a matéria?” Neste contexto, a menção aos ritos de passagem de adolescência para a juventude e de noiva para a esposa aparecem como factos distintivos entre as mulheres das duas regiões. 

Outras diferenças existentes entre as mulheres do sul e do norte como uma construção social encontramos ao longo da narração. Citamos: “No norte, as mulheres enfeitam-se com flores, embelezam-se, cuidam-se. No norte a mulher é luz e deve dar luz ao mundo” (p. 38). Mais adiante a narradora continua: no sul as mulheres vestem cores tristes, pesadas. Têm o rosto sempre zangado e cansado, e falam aos gritos como quem briga, imitando os estrondos da trovoada. Usam o lenço na cabeça sem arte nem beleza, como quem amarra um feixe de lenha. Vestem-se porque não podem andar nuas” (p. 38). Todas estas diferenças acentuadas entre as mulheres do sul e norte, de acordo com a conselheira macua, e que concorrem para que Rami não consiga gerir o seu lar, expondo-se a praticar um papel no lar que em vez de a favorecer, só a pode prejudicar, deve-se a falta dos ritos de passagem, instituição em que as mulheres do norte aprendem coisas relacionados ao amor, sedução, de maternidade, da sociedade, de convivência e acima de tudo as lições básicas de amor e sexo.
Mas não só existem diferenças entre as mulheres das duas regiões. Aliás, há diferenças porque existem semelhanças. As mais flagrantes que o romance oferece são:

Ø  De norte a sul os diferentes grupos etnolinguísticos, através de tabus, impendem que a mulher em período de menstruação aproxime-se da vida pública;
Ø  De norte a sul as mulheres deparam-se com tabus que as impedem de comer ovos com o pretexto de que terão filhos carecas e se portaram como galinhas poedeiras no momento do parto;
Ø  De norte a sul as mulheres são obrigadas a aceitar os mitos que as aproximam do trabalho do doméstico e afastam os homens;
Ø  Do norte a sul as mulheres são obrigadas a servir aos maridos os melhores nacos da carne, ficando para elas os ossos, as patas, as asas e o pescoço;
Ø  Do norte ao sul as mulheres são culpadas pelas calamidades naturais e outras intempéries.

Portanto, a forma como a mulher do norte e do sul prepara e vive o casamento é diferente, pois os hábitos e costumes que as orientam também são diferentes. Assim, pode-se afirmar que a diversidade étnica, que também se pode expressar a partir da diversidade linguística, é um factor que gera distinções culturais.

Para terminarmos, queremos dizer o seguinte: “as culturas são fronteiras invisíveis construindo a fortaleza do mundo” (p. 41).






 

 


 

 

 

 



4. Conclusão 


Numa sociedade multi-etnolinguística como Moçambique, a diversidade cultural é um fenómeno social irredutível. Para que se perceba a cultura moçambicana, antes é necessário que se consolide os aspectos concorrentes à convergência e a divergência de cada grupo etnolinguístico. Na impossibilidade de fazê-lo, neste trabalho nos dedicamos a analisar alguns aspectos que amiúde permitem relacionar determinados hábitos e costumes, através da literatura, por entendermos que é uma manifestação artística propensa a reflexão da cultura. E a conclusão a que chegamos é de que não existem fronteiras políticas ou geográficas que podem fazer com que as manifestações culturais de um país ou parte dele sejam as mesmas/diferentes.

Porque a cultura não é um património estanque, pelo contrário, por evoluir num determinado cronótipo, os hábitos e costumes desenvolvidos pelo Homem num determinado universo, tanto podem concorrer para aproximar uma etnia da outra como também para afastá-las. E mesmo numa mesma etnia, a uniformidade dos costumes não é fenómeno que se pode encontrar com muita facilidade, pois o Homem em si já é uma entidade diversa.

Tanto em “Quenguelequezê”, de Rui de Noronha, “Balada de Amor ao Vento” e “Niketche”, ambos de Paulina Chiziane, a cultura integra na essência dos textos como se pretendessem dar-se a conhecer aos leitores. Tal facto acontece porque a literatura está “umbilicalmente” ligada a cultura, e, por isso, funcionar como um veículo de transmissão e preservação dos costumes sociais. Há, portanto, uma relação recíproca entre a literatura e cultura e o Homem que as produz na tentativa de perpetuar imagens e imaginários que sirvam de itinerários às diversas gerações. 




5. Referência bibliográfica


Altuna, P. (1985) Cultura Tradicional Banto. Luanda: Secretariado Arquidiocesano de Pastoral.
Chiziane, P. (2008) Balada de Amor ao Vento, 4ª Edição. Maputo: Ndjira.
Dubois, J. et al (1973) Dicionário de Linguística. São Paulo: Editora Cultrix.
Lima, M., Martinez, B. e Filho, J. (1991) Introdução à Antropologia Cultural, 9ª Edição. Lisboa: Editorial Presença.
Lopes, A., Sitoe, S. e Nhamuende, P. (2002) Moçambicanismos: Para um Léxico de Usos do Português Moçambicano. Maputo: Livraria Universitária.
Matusse, G. (1998) A Construção da Imagem de Moçambicanidade em José Craveirinha, Mia Couto e Ungulani Ba Ka Khosa. Maputo: Livraria Universitária.
Mendes, O. (1980) Sobre Literatura Moçambicana. Maputo: Instituto Nacional do Livro e do Disco.
Noronha, E. (2006) África Surge et Ambula: Rui de Noronha – Poeta Moçambicano. Maputo: Espaço Rui de Noronha Associação.
Rosário, L. (2010) O Lugar da Literatura Como Veículo de Valores Culturais Africanos – O Caso de Moçambique. IV de Professores de Literaturas Africanas. Belo Horizonte, Novembro de 2010.
Siliya, C. (1996) Ensaios Sobre a Cultura Em Moçambique. Maputo: ____________________
Todorov, T. (1978) Os Géneros do Discurso. Lisboa: Edições 70.

Outra fonte
Martins, D. (2001) O Estado Natural de Thomas Hobbes e a Necessidade de uma Instituição Política e Jurídica, site [acessed on Março de 2011].




[1] Grupo humano que apresenta características raciais, culturais e nacionais homogéneas (p.456).
[2] “Termo anunciador do aparecimento da lua nova no firmamento, ocasião em que se realizavam cerimónia de apresentação dos recém-nascidos (termo consagrado também na literatura por Rui de Noronha) como forma de lhes abrir as portas da vida. Significa ei-la (a lua)! O termo expressa o momento que se esperava com ansiedade e sem se saber exactamente quando aconteceria; sinal especial de esperança. Tradição entre marrongas, machanganes e matswas. Formal e informal” (Lopes, Sitoe e Nhamuende, 2002: 128).
[3] In Mendes (1980: 25 – 28).
[4] Sublinhados nossos.

análise comparativa entre os contos “O Domador de Burros” e “Da Galinha e do Ovo”, de Aldino Muianga e José Luandino Vieira

Introdução
O presente trabalho visa fazer uma análise comparativa entre os contos “O Domador de Burros” e “Da Galinha e do Ovo”, de Aldino Muianga e José Luandino Vieira respectivamente.
A nossa análise focar-se-á no conceito intertextualidade, uma vez que os dois textos parecem estabelecer uma relação entre si, a nível do contexto social que os dois textos representam. Já que os contos apresentam acções que se desenrolam num momento histórico partilhado por dois espaços geográficos, nomeadamente, Moçambique e Angola, antigas colónias portuguesas.

O conto “ O domador de Burros”, narra a história de Jaime Totó, que segundo o texto é originário de Marracuene onde rouba dois burros e emigra para a cidade e vai se fixar no bairro de Matorsine, um dos subúrbios de Lourenço Marque (actual Maputo), e devido a sua dedicação pelo trabalho e artimanhas, consegue conquistar simpatias da maior parte dos moradores, no entanto, não consegue ganhar a simpatia do enfermeiro Maurício, amante da dona Vicentina, que via nos burros, ou seja, nos excrementos dos burros e nas tripas que Totó vendia um foco para a propagação de doenças. E devido a um incidente havido, causado pelo burro macho a pessoa da dona Vicentina na presença do enfermeiro Maurício, onde o burro demonstrou uma apreciação sexual pela dona Vicentina, e Maurício faz tudo ao seu alcance para se livrar dos burros e do seu “dono”, onde consegue influenciar o regedor a convocar uma reunião que tinha como objectivo condenar Jaime Totó. E para tal, organiza um discurso retórico, no sentido de apelar ao bom senso da comunidade sobre o mal que os burros e o seu dono representam a comunidade.
O conto “Da Galinha e do Ovo”, narra a história de duas vizinhas que disputam a posse de um ovo, a Nga Zefa, dona da galinha, e Bina, “suposta dona do ovo”, e para justificar a posse do ovo, Bina, socorre-se de um discurso retórico para convencer a dona e ao público que o ovo posto pela galinha da Nga Zefa, na casa por si arrendada lhe pertence. Mas não é Bina e Zefa que reclamam o ovo para si, pois outras várias personagem que são convidadas para ajudarem na resolução do conflito, também socorrem-se do discurso argumentativo para reclamar a posse do ovo. O que dificulta na resolução do conflito entre as duas vizinhas.   
Pontos de intersecção
Estes dois contos mantêm uma relação de semelhança, na medida que os dois contos retratam uma sociedade inserida num contexto colonial ou seja num momento histórico semelhante, bem como pelo espaço onde decorrem as acções, isto é, as acções desenrolam-se nos subúrbios das capitais, nomeadamente, Matorsine (Lourenço Marques ou seja Maputo) e  Sambizanga ( Luanda), capital de Moçambique e Angola respectivamente  e por serem narrados por um narrador heterodiegético, isto é, o narrador só relata factos por si observados, não fazendo parte do enredo. E por terem como objecto de conflito, um animal, no caso concreto do conto “O domador de burros” o objecto de conflito são os  burros enquanto, no conto “  “Da galinha e do ovo” o objecto de conflito é a posse de um ovo da galinha Cabíri. E ainda mantém semelhança na medida que os personagens para lograrem os seus intentos socorrem-se de um discurso retórico, de modo a tentar provar que o ovo lhes pertence. E no conto o domador de burros, Maurício para se livrar de Toto, também recorre ao discurso retórico para convencer a população de Matorsine a apoiar a sua ideia.
E para ilustrar os pontos de intersecção entre os dois textos, analisaremos as personagens: enfermeiro Maurício, personagem do conto de Muianga e a personagem Bina do conto de Luandino Vieira.
Maurício para convencer ao público sobre os malefícios que a presença do burro e do seu “dono” podem causar a comunidade, centra o seu discurso nas doenças provocadas pelos excrementos deixados pelo burro, bem como pela presença das moscas, que abundam no bairro convidadas pelo cheiro nauseabundo causado pelas tripas vendidas por Totó, alegando que os excrementos causam um cheiro insuportável e as moscas são vectores de doenças graves.
E Bina para convencer o público e a Zefa que o ovo lhe pertence, centra o seu discurso no facto de ter alimentado a galinha e também pelo facto de a galinha ter posto o ovo em sua casa, para além da Zefa não ter demonstrado nenhuma objecção no momento em que ela alimentava a galinha com o milho comprado na loja do Sô Zé.
Outro elemento de intersecção é o facto dos dois contos apresentarem personagens que supostamente percebem a língua dos animas. No conto de Muianga temos a personagem Totó que interpreta a língua dos burros e adivinhando o futuro dos membros da comunidade. E no conto de Luandino este papel coube ao personagem Beto, filho da Zefa que de acordo com o texto, a galinha confidencia-lhe sobre a quem devia pertencer o ovo.
E outro elemento que aproxima os dois textos é o facto de os dois textos apresentarem animais que em algum momento da narração os animais apresentarem comportamento idêntico ao do ser humano, por exemplo, o burro adivinha o “prevê” o futuro das pessoas e a galinha “diz” a quem pertence o ovo. Tal como ilustra o seguinte trecho:
“- Hoiiimmm!...Hoiimmm!...- é Swing a estrebuchar de novo , na adivinhação do futuro doutro espectador.”(Muianga.p.13)

“ – a galinha fala assim, vavó:
Ngexile kua ngata Zefa
Ngala ngó ku kakela
Ka…ka…ka…kakela, kakela…”( Vieira,p.135)

Nos trechos acima apresentados verifica-se de forma explícita que os animas demonstram qualidades humanas.
O desfecho também apresenta elementos que aproximam os dois textos, pois, no conto de Muianga, Totó ao se aperceber da presença do verdadeiro dono e também pelo facto de estar a ser procurado pelas autoridades, fogem ou seja consegue escapar. E no conto de Luandino, Beto ao se aperceber que os membros da patrulha pretendiam se apropriar da galinha, emitem sons idênticos a fala das galinhas, chamando-a, e esta consegue se escapar das mãos do soldado, fugindo para bem longe.  
Os dois contos dialogam na medida que, narram as vivência de comunidades que inseridas num contexto colonial, onde a descriminação é o prato forte, o controlo das actividades comerciais estão nas mãos dos brancos, isto é, os exploradores. E também pelo facto de as acções estarem centralizadas num subúrbios da cidade capital. Para o caso do conto “O domador de burros” as acções estão centralizadas no bairro de Matorsine um dos subúrbios de Lourenço Marques (actual Maputo) e no conto “Da galinha e do ovo” as acções decorrem num subúrbio de Luanda ( capital angolana),isto é, o musseque Sambizanga. 
Pontos de divergência
O dois contos em análise, divergem  no que se refere ao tempo da diegese, pois para o conto de Muianga as acções principais dão-se num período longo ou seja vários dias, enquanto, no conto de Vieira, as acções tem lugar numa tarde.
No que respeita as personagens temos no conto de Muianga, Toto que para fazer valer as suas artimanhas maltrata o animal, ao enfiar beatas de cigarro no ouvido do animal, e devido as dores provocadas pela queima do cigarro o animal mungia e este fingia que o animal estava a dizer o resultado da consulta, importa referir que os burros eram produto do roubo, pois segundo o texto, os burros são da pertença de Spanela, um camponês de Marracuene. Toto ao roubar o burro tinha como objectivo acumular dinheiro resultante do trabalho prestado pelos burros na cidade. O texto apresenta ainda personagens unidas, ao rebaterem em falso todas as acusações proferidas pelo enfermeiro a pessoa de Jaime Toto.
No conto de Luandino, temos personagem que se caracterizam por estarem divididas ou seja há falta de união o que dificulta a resolução do conflito existente, e ao serem convocadas as personagem sô Ze, sô Vitalino, Lemos, etc, estes aproveitam-se da desunião do grupo para se apropriarem da galinha e do ovo.
No que concerne a identidade os dois contos divergem uma vez que no conto de Muianga, o texto apresenta-nos personagens que demonstram-se contra os princípios ocidentais, por exemplo ao negar que os excrementos são um foco de doença e defende que servem como estrume no lugar de usar produtos químicos que segundo o texto matam as culturas.
“ Já não precisamos de ir a cidade para comprar esses pós que só nos envenenam as terras” (Muianga. 18)
O trecho acima demonstra de forma clara o conflito entre os princípios ocidentais e tradicionais sobre como deve-se tratar a terra para a prática da agricultura.
E o texto de Luandino verifica-se o uso de elementos da língua local no português, o que demonstra uma ruptura com a língua imposta ou seja com a matriz colonizadora, e uma tentativa de resgatar a tradição local.
“ Um murmúrio de aprovação saiu do grupo, mas nga Zefa não desistiu: o ovo não ia lhe deixar voar no fim de passar tanta discussão. Saltou na frente do rapaz, tirou-lhe o ovo da mão, muxoxou:” (Vieira, p. 137)
Com a introdução de elementos da língua local, supõe-se que haja uma tentativa de resgatar e salvaguardar a tradição.
Conclusão

Concluímos que os dois textos mantêm uma relação de intertextualidade, uma vez que retratam ou seja narram acções que se desenrolaram num momento histórico partilhado por dois povos separados geograficamente, mas que têm um elemento comum, no caso concreto, o colonialismo português. Verifica-se que apesar das divergências entre si, as personagens demonstram uma grande união contra o sistema em vigor. Isto é demonstrado pela negação dos princípios ocidentais na resolução dos seus problemas. Mas também ilustra os conflitos existentes entre os assimilados e o resto da população no que refere a forma como devem ser resolvidos os problemas da comunidade.
A obra de do escritor mocaambicano Mia Couto, e composta por 12 contos. E em seguida iremos apresentar o resumo destes contos 

A Fogueira

O conto a fogueira, retrata a historia de um casal de velhos, que devido ao estado avançado da sua idade e não gozando de boa saúde. O marido pretende matar a esposa, uma vez que não pretendia deixar a sua esposa sofrer no caso de ele morrer antes, já que não tinha mais ninguém que se encarregasse dos preparativos do seu enterro no caso de morte. Mas antes, ele prepara a sepultura para a sua esposa. O velho dedica-se tanto ao trabalho, ignorando o seu estado de saúde já débil, apesar dos apelos da esposa que, pedia-o para descansar, mas o velho não a dava ouvidos.
O velho trabalhava mesmo debaixo de mau tempo. Este facto, agravou ainda mais o seu estado de saúde, provocando-lhe febre. Só depois, é que o velho aceita descansar, mas antes, prometendo a velha que depois do descanso iria mata-la, uma vez que a sepultura já se encontrava pronta para receber as suas exéquias.
E durante o descanso do velho, a velha sonha com a cerimónia do seu velório, casa cheia de familiares. Mas durante o descanso eis que o velho morre, e a esposa só se apercebe da sua morte quando segura a sua mão e sente que esta, esta fria.


O último aviso do corvo falador.

O conto o último aviso falador retrata a historia de Zuzéé Paraza, que como por um efeito de magia e, em pleno público, vomita um corvo.
Este facto, influenciou com que as pessoas da comunidade, acreditassem que, Zuzéé era detentor de poderes mágicos.
Depois deste facto, Zuzéé passa a prestar consultas a comunidade, prevendo-lhes os destinos. A História de Zuzéé muda, no momento em que recebe no seu consultório a dona Cândida, uma mulata da região e esposa de Sulemane, um comerciante da região e, de origem indiana. Importa salientar que dona Cândida era viúva de Evaristo, negro e natural da região.
E Zuzéé, aproveita-se da preocupação da dona Cândida para conseguir ter novas roupas. E para tal, recomenda a dona Cândida a trazer uma mala de roupas, uma vez que os problemas que a afligiam eram causados pelo espírito do marido que passava frio no além.
Dona Cândida cumpre com as recomendações de Zuzéé, apesar do receio, uma vez que aquilo não devia ser do conhecimento de Sulemane.
Mas Zuzéé não resiste e veste as roupas entregues por Dona Cândida e exibe-se pela região, mesmo sabendo que estas, pertencem a Sulemane.
Mais tarde, Sulemane toma conhecimento que as suas roupas estavam com Zuzéé e, procura-o para ajustar as contas. O encontro resulta em agressão física e consequentemente na morte do pássaro.
E perante este facto, Zuzéé, aproveitando-se do nervosismo de Sulemane e pelo facto de o pássaro ter sido morto e faz profecias sobre o que aconteceria a Sulemane nos instantes subsequentes. Depois de fazer a profecia, eis que Sulemane começa a sentir-se mal, manifestando o tal e qual Zuzéé havia dito. Este facto serviu para reforçar a crença nos seus poderes, uma vez que depois aquele acto, Zuzéé decide abandonar a região e os membros da comunidade seguiram-lhe o exemplo, já que Zuzéé tinha previsto uma  praga.

O dia em que explodiu Mabata-bata.

O conto retrata a história de um jovem Azarias, pastor e órfão.
Azarias vivia sob cuidados do seu tio Raul e da sua avó Carolina, Azarias não estudava, a sua única tarefa era cuidar do gado do seu tio Raul. E o seu maior sonho era um dia poder ir a frequentar a escola.
Da manada sob a sua responsabilidade, Azarias nutria uma grande admiração pelo boi Mabata-bata, pois era o mais forte da manada, e tinha sido escolhido para servir como dote durante a cerimonia de casamento do tio Raul.
Mas certo dia, o boi Mabata-bata, acionou uma mina e morreu, o facto deixou Azarias muito preocupado e apreensivo, uma vez que o tio já o tinha prometido um forte castigo,  se algo de mal acontecesse aos bois. E devido a este facto Azarias pensa em fugir, como forma de não sofrer as sevícias prometidas pelo tio. Contudo, a sua demora desperta a preocupação da avó Carolina, que chama a atenção do seu filho Raúl.
E Raul decide ir a procura do sobrinho e do gado, apesar dos apelos da velha para não ir, uma vez que os soldados informaram que, a região encontrava-se minada. A velha e Raul encontram o Azarias e o gado e, ficam satisfeito com o facto. E prometem-lhe um premio, pediram-lhe que escolhesse qual seria o premio. E Azarias pediu para o deixarem ir a escola no próximo ano, pedido aparentemente aceite pelo tio Raul. Mas ao sair de encontro ao tio e a avó carolina, Azarias aciona uma mina e morre.


Os pássaros de Deus.

Este conto retrata a historia de Ernesto Timba, um pescador, que de forma estranha, um pássaro decide ficar sob os seus cuidados. Azarias aceita cuidar o pássaro, uma vez que ele acreditava que aquele pássaro tinha sido enviado por Deus.
Azarias cuida dos pássaros, desviando inclusive a comida que devia servir para alimentar a família. Esta situação levou com que o resto da comunidade o achasse louco. Ate que certo dia ao voltar da faina, Timba se apercebe que atearam fogo sobre a gaiola e os pássaros estavam mortos, Timba acreditava que quem fizesse mal aos pássaros seria amaldiçoado.
Mas, ele pede a Deus para não castigar a comunidade pelo facto e, que ele se entregava em nome da comunidade. E estranhamente, Timba é encontrado morta a margem do rio. E ninguém conseguiu retirar o cadáver deste a margem do rio, uma vez que era demasiado pesado, mesmo os homens mais fortes da aldeia.


De como vazou a vida de Ascolino do Perpétuo Socorro.

O conto centra-se na vida de Ascolino do Perpétuo Socorro, homem de origem goesa, vivia na Munhava e era casado com a dona Epifania e, tinha Vasco João Joãoquinho como seu empregado e motorista.
Ascolino era infeliz no seu casamento, uma vez que a sua esposa não o dava atenção e o carinho que ele desejava,ela era demasiadamente devota a Deus .Ascolino passava maior parte do seu tempo no bar do Meneses, onde sempre ia, na companhia do seu empregado João, mas, no bar ficavam em lugares diferentes. Ascolino ficava na parte de frente juntamente com outros brancos, enquanto João, ficava na parte traseira com outros pretos.
João passava maior parte do tempo, contando aos amigos sobre as peripécias que fazia parte da vida de Ascolino. É deste modo, que todos ficavam a saber da vida de Ascolino.

Afinal, Carlota Gentina não chegou de voar.
O conto retrata a história de um indivíduo que comete um homicídio, mata a sua esposa, ao tentar provar se realmente ela era uma feiticeira. Depois de consumado o acto, ele se entrega para ser julgado, contudo, ele fica indignado, uma vez que na opinião dele, ele deve ser julgado pela justiça tradicional, já que eles o julgariam tendo em conta a tradição. Partindo do principio que o seu crime é ou foi por justa causa